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Ave que fez rasante em moradores de Santos não representa perigo, afirma biólogo

Casal de gaviões-asa-de-telha acasalando no Canal 3, em Santos Leonardo Casadei Nos últimos dias, uma ave de rapina tem sido foco do debate em Santos (SP): o ...

Ave que fez rasante em moradores de Santos não representa perigo, afirma biólogo
Ave que fez rasante em moradores de Santos não representa perigo, afirma biólogo (Foto: Reprodução)

Casal de gaviões-asa-de-telha acasalando no Canal 3, em Santos Leonardo Casadei Nos últimos dias, uma ave de rapina tem sido foco do debate em Santos (SP): o gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus). Embora tenha sido associado a supostos “ataques” contra pessoas, o biólogo e ornitólogo Leonardo Casadei ressalta que é preciso troca o medo por conhecimento. “O gavião não é um vilão. Ele é um animal belo, necessário para nós. Seu trabalho nas cidades é importantíssimo”, afirma Casadei. Originário de habitats campestres e manguezais, o gavião-asa-de-telha tornou-se uma ave cosmopolita, hoje bem adaptada às áreas urbanas, como Santos. “A cidade de Santos oferece árvores altas, ideais para abrigo e nidificação, além de uma grande oferta de presas, como pombos-domésticos e ratos. Ao se alimentar desses animais, o gavião-asa-de-telha contribui para o controle de pragas que podem transmitir doenças. A espécie já faz parte da paisagem santista há mais de 20 anos”, explica Casadei. Originário de habitats campestres e manguezais, o gavião-asa-de-telha tornou-se uma ave cosmopolita, hoje bem adaptada às áreas urbanas, como Santos Leonardo Casadei Sobre a espécie O gavião-asa-de-telha é uma ave accipitriforme da família Accipitridae. Também é conhecido por outros nomes populares, como gavião-de-asa-castanha, urubiúna, caçador-do-cerradão e gavião-escuro. Seu nome científico vem do grego e latim e pode ser traduzido como: “ave próximo do gênero Buteo com faixa” ou “ave parecida com urubu com faixa” – referência à faixa branca em sua cauda escura. O gavião-asa-de-telha também é conhecido por gavião-de-asa-castanha, urubiúna, caçador-do-cerradão e gavião-escuro Leonardo Casadei Com 48 a 56 cm de comprimento e envergadura de até 115 cm, o macho pesa cerca de 725g e a fêmea entre 834g e 1047g. As fêmeas são maiores, embora tenham plumagem semelhante à dos machos. A espécie possui corpo castanho-escuro, com asas e coxas em tom castanho-avermelhado, cauda com extremidade branca e penas cloacais claras. O animal ocorre desde o sul dos Estados Unidos até a Terra do Fogo, e está amplamente distribuído no Brasil, tendo os nossos indivíduos plumagem mais clara que os da América do Norte. O gavião-asa-de-telha é uma ave bastante arisca e geralmente evita a aproximação de humanos rodrigo_lazaro/iNaturalist Sua alimentação inclui pequenos vertebrados e insetos grandes, podendo capturar presas do tamanho de uma codorna, frango-d’água ou coelho. Já foram encontrados restos de gambás, pombas, ratos do mato, pequenas garças e cobras entre suas presas. É considerada uma ave bastante arisca, que geralmente evita a aproximação de humanos, por isso ataques não são comuns. O caso de 3 de julho Em 3 de julho de 2025, uma mulher caminhava pela esquina das ruas Minas Gerais com Washington Luiz, no bairro Boqueirão – área próxima aos canais – quando foi alvo de um rasante do gavião, que resultou em um corte na cabeça. Ela foi socorrida inicialmente por populares em um salão de beleza e encaminhada posteriormente ao atendimento médico. Segundo Casadei, o episódio envolve um indivíduo mais territorialista, provavelmente protegendo seu ninho. O comportamento, apesar de impactante, é extremamente raro entre aves rapinantes urbanas. “Não é um ataque. Ele não tem intenção de agredir. Estava apenas defendendo o território. E isso é raríssimo de acontecer”. Após as reportagens sobre o caso da mulher, um homem de 30 anos afirmou ter sido atacado na mesma região do Boqueirão e precisou levar pontos na orelha. Reprodução A espécie costuma se reproduzir de junho a novembro, de acordo com Casadei, embora o período possa variar conforme a disponibilidade de alimento. A fêmea põe de dois a quatro ovos, incubados por cerca de 33 a 36 dias. Os filhotes deixam o ninho por volta dos 40 dias, mas permanecem próximos aos pais por até quatro meses. Indivíduo jovem de gavião-asa-de-telha fotografado no Orquidário Municipal de Santos Leonardo Casadei A reprodução pode envolver cooperação de outros indivíduos do grupo, que ajudam na alimentação e proteção dos filhotes. Um desfecho preocupante Após a grande repercussão do caso, um gavião-asa-de-telha foi encontrado morto em 30 de julho de 2025, nas proximidades do canal 3, mesma região dos conflitos. Ainda não se sabe se a morte foi natural, por uma colisão com janelas, ou provocada por agressão humana. Como o animal não foi encontrado, não será possível realizar a necrópsia que poderia esclarecer a causa A morte gerou comoção nas redes sociais, com mensagens que incentivam o extermínio da ave, o que preocupa ambientalistas e ornitólogos. Medidas possíveis e urgentes Casadei defende ações educativas e preventivas para evitar novos incidentes sem comprometer a integridade da espécie: Mapeamento de ninhos em áreas urbanas; Sinalização temporária em locais de reprodução; Campanhas de educação ambiental para combater o medo e promover o respeito à fauna silvestre. “Não há perigo algum. O gavião só nos traz benefícios. Devemos admirá-lo”, conclui o biólogo. O gavião-asa-de-telha ocorre desde o sul dos Estados Unidos até a Terra do Fogo, e está amplamente distribuído no Brasil Aisse Gaertner/iNaturalist VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente