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'Não recebi nada': funcionários demitidos da Voepass após desastre aéreo cobram verbas rescisórias

VÍDEO: ex-funcionária da Voepass diz não ter recebido verbas rescisórias após demissão Aos 45 anos, Alessandra Morales tenta recomeçar a vida profissiona...

'Não recebi nada': funcionários demitidos da Voepass após desastre aéreo cobram verbas rescisórias
'Não recebi nada': funcionários demitidos da Voepass após desastre aéreo cobram verbas rescisórias (Foto: Reprodução)

VÍDEO: ex-funcionária da Voepass diz não ter recebido verbas rescisórias após demissão Aos 45 anos, Alessandra Morales tenta recomeçar a vida profissional como corretora de imóveis em Ribeirão Preto (SP) depois que foi demitida da Voepass, proibida de operar voos pela Anac depois do desastre aéreo que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP) em 9 agosto de 2024. Quatro meses depois da dispensa, a ex-comissária de bordo da companhia denuncia não ter recebido nenhuma verba rescisória, além de benefícios como vale-alimentação, enquanto ainda busca se estabelecer na nova área para conseguir pagar as contas. "Eu não recebi nada, nada. Acho que era para receber no mínimo minha rescisão e o meu fundo de garantia. Não recebi nada. A empresa desligou todo mundo e depois mandaram a rescisão", diz. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp O drama de Alessandra é o mesmo de outras pessoas demitidas pela companhia aérea de Ribeirão Preto (SP) e que, um ano depois da queda do voo 2283, reclamam não ter perspectivas por parte da empresa e, por isso, recorreram à Justiça. Em abril, a companhia confirmou demissões de integrantes da tripulação, aeroportuários e pessoas de áreas de apoio, mas não confirmou a quantidade de pessoas dispensadas na época. Dois ex-funcionários entrevistados pelo g1 relatam que as dispensas foram em massa. A reportagem reiterou o pedido de informação à Voepass esta semana, mas a companhia não divulgou números oficiais até esta sexta-feira (8). O g1 também contatou os sindicatos que representam os funcionários, mas não obteve um levantamento oficial até a publicação desta notícia. Procurada, a Voepass informou que as tratativas trabalhistas estão em andamento no âmbito judicial.(veja o comunicado na íntegra ao longo desta reportagem). Avião da Voepass na pista do Aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto (SP) Marcelo Moraes/EPTV Este conteúdo integra a cobertura especial do g1 sobre a queda do voo 2283. Na semana em que o desastre completa um ano, reportagens em texto e infográficos resgatam a identidade das vítimas e detalham os desdobramentos da investigação sobre a maior tragédia aérea do país desde 2007. Como parte dessa cobertura, o g1 lançou na quarta-feira (6), em parceria com a EPTV, afiliada da TV Globo, o documentário “81 segundos” (ASSISTA AQUI), que retrata o impacto da tragédia nas famílias de algumas das 62 vítimas. O nome do filme remete ao tempo que a aeronave levou para atingir o solo após perder o controle. Nesta sexta-feira (8), a produção será exibida após o Globo Repórter nas 319 cidades da área de cobertura da EPTV. Após a exibição, o filme ficará disponível também no globoplay. LEIA TAMBÉM '81 Segundos': assista ao documentário sobre o desastre aéreo Tudo sobre a maior tragédia da aviação brasileira em quase 20 anos EXCLUSIVO - Avião da Voepass teve falha omitida horas antes de decolar, diz testemunha Áudios mostram conversas entre pilotos e controle aéreo minutos antes de queda; OUÇA Queda de avião em Vinhedo completa 1 ano sem conclusão das investigações Ação unificada e plano de pagamento Diante do volume crescente de queixas, os pedidos de pagamento estão sendo unificados em uma ação civil coletiva, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), que busca estabelecer um planejamento dos pagamentos. Essa ação, de acordo com a procuradoria, tramita desde antes do desastre aéreo em Vinhedo e já resultou na condenação ao pagamento de R$ 3 milhões a ex-funcionários. A efetivação desses pagamentos, no entanto, depende de decisões sem prazo e ocorrem de acordo com os bens que forem eventualmente bloqueados da empresa, que não conseguiu aprovar todo o plano de recuperação judicial que apresentou e acumula mais de R$ 400 milhões em dívidas. "É uma execução coletiva, para que se busquem os meios necessários para a satisfação desses créditos, seja por venda de ativos da empresa, seja por penhoras online nas contas bancárias e outros meios de execução que nós temos regulamentados em lei, para, uma vez apurados esses ativos e o passivo, se proceda a um pagamento mais equânime dos trabalhadores", afirma Luana Lima Duarte, procuradora do MPT. Alessandra Morales, ex-comissária de bordo da Voepass, em Ribeirão Preto (SP). Aurélio Sal/EPTV Falta de pagamento e angústia Desde que foi demitida da Voepass, Alessandra tem vivido um período de incertezas, a começar pela dificuldade de conseguir se estabelecer em uma nova área profissional. "Faz quatro meses que eu não tenho salário, faz quatro meses que eu busco recolocação no mercado. Hoje estou atuando como corretora de móveis. Eu estou no ramo faz pouco tempo, então até você criar sua carteira demora um pouquinho." As dificuldades financeiras e o acúmulo de contas também têm afetado a saúde, afirma a ex-funcionária. "Engordei absurdo porque você fica preocupada, você come desregulado, estou com problema de saúde, estou com problema no fígado. É óbvio que isso impacta a saúde física e psicológica. Você não tem paz", diz. A situação poderia ser um pouco diferente, segundo ela, se ao menos tivesse recebido o que é de direito da companhia aérea, entre fundo de garantia, que daria quase R$ 100 mil, a multa rescisória e remanescentes de benefícios não pagos. "Não veio nenhum centavo." De acordo com a ex-comissária, até mesmo o salário do último mês trabalhado não foi repassado. "Eu poderia estar bem mais tranquila, poderia estar recomeçando por alguma coisa. Agora, aos 45 anos, começar do zero, com a mão na frente ou da trás." Voepass fechada no aeroporto de Ribeirão Preto Marcelo Moraes / EPTV Ribeirão 'Funcionários saíram sem o seu direito' Outro ex-funcionário entrevistado pelo g1 confirma a falta de pagamentos por parte da Voepass após as demissões. "Os funcionários saíram sem o seu direito. O que a gente tinha como direito mesmo, como um funcionário, ninguém recebeu. FGTS, salário do mês, todo mundo ficou assim, saiu com uma mão na frente e outra atrás", afirma o entrevistado, que preferiu não ser identificado. Segundo ele, logo depois do desastre aéreo a companhia já dava mostras de problemas. No fim do ano passado, a empresa chegou a recolher a primeira parcela do décimo terceiro, mas não pagou o restante, afirma o ex--funcionário. "Essa parcela não veio. A empresa não dava uma justificativa, não tinha nada, ela não explicava nada para a gente o que estava acontecendo." Escombros de avião em Vinhedo (SP) em agosto de 2024 Nelson Almeida/AFP Desastre aéreo e crise financeira As finanças da Voepass se agravaram depois do desastre aéreo em Vinhedo. A companhia, que já herdava dívidas de acordos trabalhistas do período da pandemia, teve mais problemas ainda no início do ano, quando a Latam - principal parceria comercial na operação de voos - rescindiu o contrato. A empresa chegou a obter uma decisão para suspensão de alguns pagamentos com credores, a fim de reorganizar as contas, mas o cenário mudou em março, quando todos os voos da empresa foram suspensos pela Anac, após inspeções apontarem irregularidades. A companhia ajuizou um pedido de recuperação judicial em abril, mas a Justiça somente aprovou o processo para três das cinco empresas do grupo, deixando a Passaredo Transportes Aéreos de fora. Um dos argumentos apresentados foi justamente a inatividade dos voos. Em junho, a Anac cassou em definitivo o certificado de operador aéreo (COA) da Voepass, o que a impede de voltar a transportar passageiros em aeronaves no país. '81 segundos': assista ao teaser do documentário sobre a tragédia aérea em Vinhedo O que diz a Voepass Questionada sobre o número de funcionários demitidos e sobre a falta de pagamentos de verbas rescisórias, a Voepass informou que as tratativas com ex-funcionários estão na Justiça. Leia, na íntegra, a nota abaixo: No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente. A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico. Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos fortemente dedicados a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente. Sobre a apuração das causas do acidente, reiteramos nossa confiança no trabalho do CENIPA, com o qual temos colaborado desde o início das apurações, e reforçamos que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido. Cabe lembrar que o relatório preliminar divulgado pelo órgão em setembro de 2024 confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A atuação da empresa esteve sempre pautada em padrões de segurança internacionais, contando inclusive com a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além de ter o acompanhamento periódico da ANAC como agência reguladora. Em três décadas de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia. Com relação às tratativas trabalhistas e com credores, elas seguem em andamento no âmbito judicial. Agimos sempre com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme e com respeito e sensibilidade a dor dos familiares das vítimas, e com toda a sociedade brasileira. VOEPASS Linhas Aéreas Tragédia da Voepass: vídeo mostra como foi acidente de avião em Vinhedo Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região