Nova onça-pintada é registrada na RPPN Cristalino, no norte do MT
Possível novo indivíduo de onça-pintada foi visto na RPPN Cristalino, no MT Lucas Eduardo Araújo Silva Uma expedição recente do projeto Looking for Jaguar...

Possível novo indivíduo de onça-pintada foi visto na RPPN Cristalino, no MT Lucas Eduardo Araújo Silva Uma expedição recente do projeto Looking for Jaguars, realizada pela Fundação Ecológica Cristalino (FEC), registrou o avistamento de uma onça-pintada (Panthera onca) na Amazônia Meridional. O felino foi visto na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cristalino, localizada no norte do Mato Grosso. A confirmação de que se trata de um novo indivíduo foi possível por meio da análise das pintas, chamadas de rosetas, ao redor da cabeça e dos olhos. Assim como as impressões digitais humanas, esse padrão é único em cada onça. De acordo com o biólogo Lucas Eduardo Araújo Silva, coordenador geral da Fundação Ecológica Cristalino (FEC), com a confirmação da presença de um novo indivíduo, a contagem sobe para oito onças-pintadas identificadas na área da RPPN Cristalino. Apesar de ocupar apenas 7 mil hectares - uma área relativamente pequena para os padrões amazônicos -, a reserva forma um importante corredor ecológico, conectando-se a outras áreas protegidas, como o Parque Estadual Cristalino, a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, unidades da Força Aérea Brasileira e territórios indígenas. “Registrar oito indivíduos diferentes de uma espécie como esta, com uma área de vida muito grande, por se tratar de um predador de topo, é muito importante para tentarmos entender um pouco mais sobre a sua ecologia”, explica o coordenador. Ainda segundo ele, esse número pode indicar dois cenários: a possível migração de animais devido ao desmatamento e às queimadas no entorno, ou a sobreposição de territórios de machos em uma área de fronteira entre domínios. Ainda é cedo para afirmar com certeza, mas ambos os fatores reforçam a relevância da área como refúgio. Se confirmada a presença de um novo indivíduo, contagem dos felinos sobe para oito Cleber Ricardo dos Santos O avistamento aconteceu às margens do Rio Cristalino, e o comportamento do animal chamou atenção: o macho permaneceu por mais de quatro horas no mesmo local, observando calmamente o movimento de barcos com turistas da região. “Depois deste dia, ele foi avistado outras vezes em outros pontos, e acredita-se que pode se tratar de um indivíduo jovem adulto e que esteja curioso e tranquilo com a presença de pessoas no rio”, comenta o coordenador. Monitoramento intensivo Durante os três dias de expedição, a equipe do projeto percorreu 28 km da floresta amazônica, cobrindo nove trilhas em jornadas de até dez horas diárias. Além do avistamento da onça, foram coletados cartões de memória de 17 armadilhas fotográficas, que ajudam a ampliar o banco de dados sobre a fauna da região. Participaram da atividade as biólogas e assistentes de projeto da FEC, Alicia Marques e Suesly Habowski. Técnicos vem monitorando a atividade das onças por meio de câmeras trap Looking for Jaguars Entre os animais avistados também estavam lontras, capivaras, jacarés e várias espécies de aves. A época da seca amazônica favorece esse tipo de registro, já que os animais tendem a se deslocar em busca de água e alimento, concentrando-se próximos aos rios. Câmeras revelam bastidores da floresta As armadilhas fotográficas foram instaladas em 2022 e permanecem ativas do fim do período chuvoso ao início do próximo, geralmente entre abril e novembro. Posicionadas a 50 cm do solo, essas câmeras funcionam 24 horas por dia, capturando não apenas imagens da fauna, mas também dos visitantes que percorrem as trilhas de contemplação. A tecnologia permite levantar dados sobre horários de atividade, número de indivíduos, comportamentos e presença de espécies raras, como a própria onça-pintada. A equipe agora pretende expandir o número de câmeras e explorar novas áreas ainda não monitoradas. Ecoturismo como ferramenta de preservação O projeto Looking for Jaguars também surgiu com o objetivo de entender se o ecoturismo nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino causava algum impacto na presença de grandes mamíferos. Em parceria com o Laboratório de Mamíferos da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), o estudo concluiu que, mesmo em áreas de alta visitação, esses animais continuam utilizando as trilhas, especialmente quando os grupos de turistas são pequenos. Além de preservar a floresta, o Cristalino Lodge gera emprego e renda para moradores do entorno, impulsiona o comércio local e viabiliza os projetos ambientais da FEC - organização sem fins lucrativos que atua em frentes como educação ambiental, combate a incêndios florestais, desenvolvimento de políticas públicas e divulgação científica. Integrantes do projeto de monitoramento Looking for Jaguars “Todas estas ações só são possíveis graças ao ecoturismo realizado nas RPPNs, e a parceria desenvolvida entre o Cristalino Lodge e a FEC. E esse modelo pode ser replicado em outros locais e outros empreendimentos”, completa Lucas. Próximos passos Com o novo avistamento, o projeto segue com o monitoramento contínuo das onças-pintadas e demais mamíferos de grande porte da região. Como se trata de um estudo de longo prazo, sem previsão de encerramento, a ideia é ampliar o conhecimento sobre a ecologia desses animais e reforçar a importância das áreas protegidas como refúgios seguros em meio ao avanço do desmatamento e das queimadas. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente